Notícia - Figura masculina no parto é algo relativamente novo
Figura masculina no parto é algo relativamente novo
26/04/2022
“Man-Mid-Wife”
Olhe com atenção a famosa imagem!
(Autor Isaac Cruikshank – 1793)
A figura traz uma divisão, caricatura com uma espécie de “monstro” híbrido entre o homem tomando a cena do parto das mulheres.
– Lado direito: um local cirúrgico cheio de materiais grotescos, como fórceps rudimentares, ganchos e alavancas, e a imagem de um “obstetra homem” na cena do parto.
– Lado esquerdo é uma cena doméstica aconchegante e elegante, com lareira e tapete, com a parteira tradicional antiga.
Representa um importante protesto da época sobre a mudança que estava ocorrendo, em que as parteiras práticas estavam sendo substituídas por homens e seus aparelhos, na cena do parto.
Esta ilustração desenha a transição dos papéis das mulheres e dos homens na cena do parto. As mulheres parteiras, historicamente presentes no momento dos nascimentos, perdem aos poucos espaço para o homem. Este homem que era tido como “cientificamente”, e “mais bem preparado” e com “ferramental de trabalho” foi ocupando aos poucos o lugar de confiança na cena do parto, em detrimento ao conhecimento empírico das parteiras.
William Smellie (1697-1763) e William Hunter (1718-1783) são conhecidos como “pais da profissão de obstetrícia”. Mas, a pesquisas atuais revelam que estes homens estavam envolvidos em assassinatos. E a mudança que trouxeram, à época, para os partos sendo levados para dentro de hospitais resultou em cerca de 1 milhão a mais mortes na Grã-Bretanha e na Irlanda entre 1730 e 1930, do que teria ocorrido se tivessem continuado como eram, ou seja domiciliares.
O patriarcado, aqui, marca a vida da nossa sociedade de diversas maneiras e a forma de nascer não escaparia do modus operandi vigente. Enxergamos, então, essa ação desde o momento em que a mulher é gradativamente desvalorizada do seu lugar ativo, como profissional competente na cena do parto. E, então, chegamos a hipervalorização do homem – únicos, que tinham o direito às cadeiras acadêmicas – com a sua tecnologia da época, como por exemplo o uso do fórceps.
Vejam, a figura masculina na cena do parto é algo relativamente novo. Até o século XVIII esta atuação era exclusivamente feminina. A atuação masculina foi sendo gradativamente introduzida, mesmo debaixo de fortes críticas pelo receio da sociedade naquele momento, principalmente sobre acesso do homem ao corpo da mulher.
Pode-se dizer também que a grande mudança também acontece com a percepção do espaço mercantil. Isso mesmo! Até aquele momento parir era um ato simbólico e familiar. Para que essa transformação da visão fosse possível, o demérito na imagem social das parteiras da época era uma alternativa, reforçando o fato da maioria delas serem analfabetas e de não estarem “tecnicamente prontas” para realizar tal ato.
Com isso, aos poucos, o momento do parto foi se tornando cada dia menos um processo natural e domiciliar e passou-se a ser percebido como um procedimento médico/hospitalar. A figura do médico (homem) torna-se então natural.
A cena do parto como conhecemos hoje já foi por diversas vezes transformada. Isto, de acordo como a sociedade enxerga e se relaciona com os atores envolvidos e principalmente com as relações que impactam o seu acesso.
Hoje, estamos todos escrevendo esta nova história e podemos ser transformadores desse cenário para que tenhamos cada dia mais uma cena de parto que seja principalmente respeitosa à mulher e ao momento sublime do parto. As mulheres devem ser valorizadas cada dia mais, pelo seu poder ancestral de gerar a vida e de ajudar outras mulheres a fazê-lo.
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